Tratado de Hudaibiyah: Impacto sócio-político

Uma série de acontecimentos vieram confirmar a profunda sabedoria e resultados esplêndidos do tratado de paz que Allah chamou de "triunfo manifesto". Como poderia ter sido diferente, se o Coraix tinha reconhecido a existência legítima dos muçulmanos no cenário da vida política da Arábia e começou a tratar com os fiéis em igualdade de condições?

O Coraix, à luz das cláusulas do tratado, indiretamente tinha renunciado à sua reivindicação de liderança religiosa e admitia que eles não mais se interessavam em outras pessoas que não fossem os coraixitas e lavavam suas mãos para qualquer espécie de intervenção no futuro religioso da Península Arábica. Os muçulmanos não pretendiam tomar os bens das pessoas ou matá-las em guerras sanguinárias e nem pensavam em impor medidas coercitivas em seus esforços para propagar o Islam, pelo contrário, o único objetivo era dar uma atmofesra de liberdade em relação à ideologia ou a religião:

"A verdade emana de vosso Senhor, assim, pois, que creia quem desejar e descreia quem o quiser." (18:29)

Os muçulmanos, por outro lado, tinham a oportunidade de divulgar o Islam em regiões que não tinham sido exploradas ainda. Quando houve o armistício, a guerra foi abolida e os homens se encontravam e se consultavam, era difícil ouvir sobre o Islam sem se converter; em dois anos após a conclusão do tratado, o Islam mais que dobrou em número de adeptos. Quando o Profeta (saw) partiu para Hudaibiyah estavam com ele 1.400 homens, mas quando ele voltou para libertar Meca, dois anos mais tarde, vinham com ele 10.000.

A cláusula do tratado referente à cessação das hostilidades pelo prazo de dez anos aponta diretamente para o grande fracasso da política arrogante praticada pelo Coraix e seus aliados e serve como   prova do colapso e da impotência dos promovedores da guerra.

O Coraix foi obrigado a perder aquelas vantagens em troca de uma que aparentemente lhe beneficiava mas que não causava nenhum prejuízo aos muçulmanos, ou seja, o artigo que falava da devolução dos fiéis que buscassem refúgio com os muçulmanos sem o consentimento do Coraix. À primeira vista, parecia uma cláusula bastante penosa e foi considerada ruim no acampamento muçulmano. No entanto, no curso dos acontecimentos, mostrou-se uma grande bênção. Os muçulmanos mandados de volta a Meca provavelmente não renunciariam às bênçãos do Islam; pelo contrário, eles tornaram-se centros de influência para o Islam. Não era possível imaginar que eles se transformassem em apóstatas ou renegados. A sabedoria por trás desta trégua assumiu suas dimensões reais em alguns acontecimentos subsequentes.

Após o Profeta (saw) chegar a Medina, Abu Basir, que tinha escapado do Coraix, veio ter com ele como um muçulmano; o Coraix tinha mandado dois homens, pedindo que retornassem e o Profeta (saw) os devolveu. No caminho para Meca, Abu Basir matou um deles e o outro fugiu para Medina com Abu Basir na sua perseguição. Quando ele alcançou o Profeta (saw) ele disse, "Sua obrigação está terminada e Allah o livrou dela. Você me devolveu devidamente para os homens e Allah me resgatou deles." O Profeta (saw) disse "Ai de sua mãe, ele teria feito uma guerra se tivesse outros com ele." Quando ouviu aquilo, ele soube que seria devolvido e assim fugiu de Medina e foi até Saif Al-Bahr. Os outros muçulmanos que estavam sendo oprimidos em Meca começaram a fugir para Abu Basir. Ao grupo se juntaram Abu Jandal e outros, até que formaram uma colônia e logo procuraram se vingar do Coraix e começaram a interceptar suas caravanas. Os pagãos de Meca, impossibilitados de controlar aqueles rebeldes, pediram ao Profeta (saw) para acabar com a cláusula que falava sobre a extradição. Eles imploraram em nome de Allah e de seus laços de parentesco que procurasse o grupo dizendo que, aquele que se juntasse aos muçulmanos de Medina, estaria a salvo deles. Assim, o Profeta (saw) mandou buscar o grupo e eles responderam afirmativamente, como esperado.

Estas são as realidades das cláusulas do tratado de trégua e ao que parece elas funcionaram em benefício do nascente estado islâmico. No entanto, dois pontos no tratado o tornavam desagradável para alguns muçulmanos, isto é, eles não teriam acesso ao Santuário Sagrado naquele ano e a aparente atitude humilhante em relação à reconciliação com os pagãos do Coraix. 'Umar, incapaz de se conter pela tristeza que tomava conta de seu coração, foi ao Profeta (saw) e disse: "Você não é o verdadeiro Mensageiro de Allah?" O Profeta respondeu calmamente, "Por que não?" 'Umar falou de novo e perguntou: "Não estamos na senda certa e nossos inimigos na errada?" Sem mostrar qualquer ressentimento, o Profeta (saw) respondeu que era assim. Ao receber esta resposta ele replicou: "Então não devemos sofrer qualquer humilhação em matéria de fé." O Profeta (saw) estava sereno e com absoluta confiança disse: "Eu sou o verdadeiro Mensageiro de Allah, nunca O desobedeço, Ele me socorrerá." "Você não nos disse", acrescentou 'Umar, "que faremos a peregrinação?" "Mas eu nunca lhe disse", respondeu o Profeta (saw) "que nós a faremos este ano." 'Umar calou-se, mas seu espírito estava perturbado. Ele foi a Abu Bakr e expressou seus sentimentos. Abu Bakr, que nunca duvidou da veracidade e sinceridade do Profeta, confirmou o que ele (saw) tinha dito a 'Umar. No tempo devido, o Capítulo O Triunfo (48) foi revelado e diz:

"Em verdade, temos te predestinado um evidente triunfo." (48:1)

O Mensageiro de Allah (saw) chamou 'Umar e o informou das boas novas. 'Umar ficou muito feliz e profundamente arrependido de seu comportamento anterior. Ele sempre gastava em caridade, observava o jejum e as preces e libertou o máximo de escravos para expiar aquela atitude precipitada que tivera.

A primeira parte do ano 7 da Hégira testemunhou a iconversão de três homens proeminentes de Meca, 'Amr bin Al-'As, Khalid bin al-Walid e 'Uthman bin Talhah. Quando eles abraçaram o Islam, o Profeta (saw) disse "O Coraix deu-nos seu sangue."

(Dhul Qa‘dah 6 A.H.)
Ar-Raheeq al Makhtoom
© Dar al-Salaam, Riyadh

Por Sh. Safi ur-Rahman Al-Mubarakfuri

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