Por exemplo, fé, linguagem, educação e preparação. E para demolir o edifício da civilização também devem existir alguns elementos que são justamente o oposto dos que citamos antes (para constituí-la). Entre eles estão a enfermidade moral e ideológica, a perturbação da lei e da ordem, a expansão da tirania e da miséria, a generalização da mesquinhez e da indiferença, e carência de líderes honestos e capazes. A história da civilização começa da época em que o homem foi pacificamente assentado na terra.
Os elos de civilização são interligados, interruptamente e cada nação os transfere aos seus sucessores através dos tempos. Os fatores supra menciona- dos, ao invés de necessários, são, pode-se dizer, responsáveis pela sua existência. Talvez não exista nenhuma comunidade na história do mundo que não tenha feito contribuição alguma às páginas da história da civilização.
Entretanto, o que distingue uma civilização da outra, é a firmeza dos alicerces em que ela tenha sido fundada, e os efeitos que esta civilização venha a ter sobre a humanidade como um todo, principalmente os benefícios que lhe são creditáveis.
Quanto mais altruísta de acordo com a sua natureza universal, quanto mais moralizada em consonância aos seus conhecimentos e quanto mais realista nos seu preceitos, tanto mais duradoura e imortal e respeitável será considerada.
A civilização Islâmica também é um elo na corrente de civilizações humanas. Muitas civilizações a antecederam, e muitas mais a seguirão. Existiram alguns fatores que determinaram o estabelecimento da civilização, e também aqueles que causaram a sua degeneração.
Mas, estas causas e fatores estão fora do âmbito do artigo, uma vez que foi limitado ao que essa civilização foi quando existente. Mas antes de falar sobre os atrativos dessa civilização, de- veríamos mencionar um pouco a respeito do papel que ela desempenhou na história da evolução do homem, e os benefícios de natureza permanente que trouxe às nações do mundo nos campos da crença e do conhecimento, da arte e da literatura, do governo e da administração.
Nessa perspectiva, veremos que as peculiaridades mais notáveis que atraem uma pessoa estudiosa da civilização islâmica são as seguintes:
A Primeira Peculiaridade
Esta civilização se assenta sobre o alicerce do credo na unidade de Deus. Sendo assim, é a primeira civilização no palco do mundo que conclama o homem ao Deus Uno e único, que não tem parceiros na Sua soberania e regência. Somente Ele deve ser adorado e somente Ele deverá ser objeto das nossas mentes e como nosso refúgio.
"Só a Ti adoramos e só de Ti imploramos ajuda!" (Alcorão Sagrado 1:5)
Em Suas mãos estão todos os benefícios e mercês. Não existe nada entre o céu e a terra que não esteja em Seu poder e Seu controle. Este foi o milagre de assimilação do sentido e da exigência da unidade de Deus que elevou a posição do homem e que libertou os povos da opressão dos reis e dos chefes tribais, do domínio do papado e do Bramanismo, e que os redirecionou quanto à relação do governante com os governa- dos, e voltou-lhes os olhos para o Deus Uno e único, que é Criador de todas as criaturas, e Provedor dos Mundos.
Este credo teve uma influência tão profunda sobre a civilização Islâmica que ela se destacou entre todas as civilizações anteriores do mundo, e à égide do seu credo, a administração, a poesia e a literatura se libertaram de todos os fenômenos e formas de idolatria.
Esta é a razão porque os muçulmanos se abstiveram de traduzir a Ilíada e outras obras pagãs da literatura grega, e apesar de serem especialistas de gravação, pintura e outros tipos de artes decorativas, mosaicos o trabalhos de retalhos, arquitetura, eles não desenvolveram o campo de pintura de retratos ou fabricação de imagens.
O Islam declarou, abertamente, guerra contra a idolatria, e não permitiu que se fabricassem estátuas dos líderes, dos virtuosos, dos profetas e dos conquistadores, enquanto tais estátuas são consideradas como o fenômeno mais notável das civilizações antigas e das novas, uma vez que nenhuma delas atingiu a posição do Islam no credo na unidade de Deus.
Esse credo da unidade de Deus gerou o matiz da unidade e uniformidade que simboliza todas as impressões e efeitos de sua civilização e seus fenômenos, nos mínimos detalhes. É por isso que aqui há unidade na mensagem e na meta, unidade na legislação, unidade naquilo que se empreende em relação as massas, unidade na forma coletiva de relacionamento social, unidade nos meios de subsistência e modo de viver, unidade no padrão de pensamento, tanto assim que aqueles que estudaram as artes islâmicas observaram a unidade do estilo e gosto operarem nos vários modos de expressão da arte muçulmana.
Podemos pegar uma peça de marfim da Andalusia (a Espanha dos dias islâmicos), um tecido egípcio, uma cerâmica feita na Síria ou uma peça de joalharia modelada de minerais iranianos, e apesar da variedade de forma e desenhos, parecem todos ter uma mesma marca (a cultura unitária).
A Segunda Peculiaridade
A segunda peculiaridade da civilização islâmica está em que ela abrange, toda a humanidade com as suas tendências e inclinações, e é universal em sua mensagem e missão. O Alcorão havia declarado a unidade da humanidade apesar da variedade de raças, famílias e pátrias, nos seguintes termos:
"Ó humanos, em verdade, Nós vos criamos de macho e fêmea e vos dividimos em povos e tribos para que vos reconhecêsseis uns aos outros. Sabei que o mais honrado dentre vós, ante Deus, é o mais temente. Sabei que Deus é Sapientíssimo e está bem inteirado.'' (Alcorão Sagrado 49:13)
Quando esta declaração do Alcorão formou o alicerce da unidade da humanidade com a verdade, o bem e o temor a Deus, na estira da sua civilização foram dispostos todas as pessoas inteligentes e perspicazes de todas as comunidades e nações conquistadas pelo Islam.
Eis porque todas as outras civilizações só podem se orgulhar dos personagens célebres de apenas uma única nação (ou riça ou região). Mas a civilização islâmica pode se orgulhar de todos os filhos notáveis de todas as nações e tribos que haviam se dado as mãos para a construção do edifício da civilização.
Abu Hanifa, Málik, Ach- Chafi'i, Ibn Nanbal, Al-Kbalil, Siba- weh, Al-Kindi, Al Fara', Al Farabi, Ibn-Ruchd e muitos outros homens renomados, a despeito das suas afiliações raciais e, regionais diversificadas, eram todos vistos como filhos do Islam, através de quem a civilização islâmica apresentou os melhores resulta- dos e frutos do pensamento sadio diante da humanidade.
A Terceira Peculiaridade
A terceira característica da civilização islâmica é aquela que determinou um lugar prioritário aos princípios morais em todo o seu sistema e atividades. Ela jamais perdeu de vista esses princípios e nunca os usou como meio para o benefício material dos seus governantes, partidos ou mesmo indivíduos. A aplicação dos princípios morais sempre norteou o governo, o ensino e as artes, a paz e a guerra, a econo- mia, e os assuntos de família.
Mais propriamente, o ápice da perfeição e da excelência atingidos pela civilização Islâmica neste sentido, jamais foi alcançado por qualquer das civilizações antigas ou novas, e as pegadas e impressões deixadas por esta civilização nesse contexto são maravilhosas.
Quiçá, esta tenha sido, por excelência e unicidade, a civilização que garantiu somente a prosperidade e bem-aventurança para a humanidade, mantendo-a longe até das sombras da desdita.
A Quarta Peculiaridade
A quarta peculiaridade é a de que esta civilização tem fé nos verdadeiros princípios naturais e dos preceitos da crença, ela se dirigiu simultaneamente ao intelecto (pensamento) e ao coração (sentimentos). Desse ponto de vista, ela se destaca entre as outras civilizações.
E ainda, é uma característica peculiar da civilização islâmica ter ela projetado um sistema de administração do estado baseado na fé e na Crença sem que isto representasse qualquer impedimento ao crescimento e desenvolvimento do estado e da civilização. Pelo contrários fé é o fator mais importante no seu desenvolvimento.
A irradiação emana das mesquitas de Baghdad, Damasco, Córdoba e Granada iluminaram o mundo conhecido da época. A civilização islâmica é a única civilização que não separa a fé do estado. Mas apesar dessa íntima fusão dos dois, ela não experimentou nenhum dos males que assolaram a Europa durante a Idade Média.
O estado muçulmano é chefiado por um Emir ou Califa (sucessor do Profeta Muhammad). Mas o governo não é pessoal dele nem por direito nem por eminência individual. E é, por outro lado, dirigido à predominância e prevalecimento da Verdade.
Sem dúvida, o presidente é o califa ou Emir dos muçulmanos, e a legislação é competência dos especialistas em lei ou chari'ah, e todo gênero de homens preparados têm atribuídos a si deveres específicos do estado. Mas todos continuam iguais perante a lei; a excelência e a superioridade, quando há, depende do temor individual a Deus e dos seus serviços à humanidade.
Certa vez o Profeta disse:
"Toda a humanidade é a família de Deus. Portanto, o mais amado por Deus é aquele que é mais bondoso para com sua família." (Relatada por Al-Bazzar).
Esta é a fé sobre a qual se alicerça a civilização islâmica, e nela não há distinção ou privilégio especial para qualquer governante, líder religioso, aristocrata ou rico.
Diz o Alcorão:
"Dize: Sou tão. somente um mortal como vós, a quem tem sido revelado que vosso Deus é um Deus único. Por conseguinte, quem espera o comparecimento ante seu Senhor, que pratique o bem e não associe ninguém ao culto d'Ele." (Alcorão Sagrado 18:110).
A Quinta Peculiaridade
A extraordinária peculiaridade da civilização islâmica é a sua maravilhosa tolerância religiosa, que jamais foi vista em uma civilização baseada em fundamentos religiosos. Não surpreende, que alguém que não partilhe da fé em Deus e de qualquer religião, considerar todas as religiões em pé de igualdade e tratar seus seguidores com justiça.
Mas o seguidor de uma fé que está convicto de que a sua fé é a verdadeira e que seu credo é o corre- to, e a este é dada a oportunidade de brandir sua espada, conquistar terras, governar e arbitrar nelas, e ainda as- sim, a sua fé e seu credo, não lhe permitiriam tornar-se um tirano pelo seu poder, de impedir que fosse administrada justiça e impedilo de compelir as pessoas a se converterem ao redil de sua própria fé, tal pessoa seria realmente vista como uma criatura estranha.
Assim sendo, como não seria espantosa e singular a situação em que houvesse uma civilização fundamentada em bases e princípios religiosos, e que apesar disso, adotasse uma atitude de extrema tolerância, justiça, igualdade e humanismo?
Esta façanha foi conseguida pela civilização Islâmica. Gratifica-nos descobrir que a civilização Islâmica é singular nesse sentido, que ela instituiu uma única fé, mas que seu beneplácito beneficiou a todas as outras religiões.
Estas são algumas das peculiaridades e distinções da civilização islâmica no contexto da história das civilizações, que espantaram o mundo, e foram a causa de atração para as pessoas mais sérias e inteligentes de todas as religiões e correntes.
Isto aconteceu na época em que a civilização islâmica dominava o mundo, detinha o poder, estava na posição de voltar o mundo na direção certa e podia, como fez, educar e treinar o mundo. Mas quando esta civilização se viu em declínio e outras civilizações nasciam, houve divergências de opinião sobre os valores da civilização islâmica.
Alguns a detrataram, outros a elogiaram. Enquanto uns relatavam seus méritos e excelências, outros exacerbavam em apontar suas falhas. Assim, os críticos profissionais do Ocidente estão divididos quanto às suas opiniões sobre a civilização islâmica.
Eles não foram competentes para arbitrar e julgar a essa civilização. O que fazer? São eles que hoje detém os critérios de avaliação, e as opiniões deles são acatadas. Eles exercem a influência sobre o mundo e é nas mãos deles que estão as rédeas da civilização.
E os povos que estão inseridos na civilização deles o sobre quem eles arbitram, são tão fracos que as nações poderosas têm cobiçado eles, a tal ponto que o que lhes resta, podem tomar deles e, dominando suas terras, podem sufocar as chamas da sua avareza.
Talvez seja esta posição tomada pelos fortes contra os fracos que aqueles desdenham e consideram as suas falhas. Pelo menos é o que os poderosos tem feito com os indefesos sempre, sendo os muçulmanos a única exceção por terem agido com justiça tanto com os fortes como com os fracos quando detinham o poder, e por reconhecerem a excelência onde quer que ela existisse, quer no Oriente quer no Ocidente.
Que civilização pode se comparar à islâmica em matéria de governo justiceiro, pureza de objetivos e constância de consciência na história do mundo?
É realmente lamentável não estarmos ciosos do preconceito das nações poderosas do mundo, e das suas opiniões injustas sobre a civilização islâmica. Muitas delas estão com os olhos vendados pelo fanatismo religioso, o que as toma incapazes de verem a verdade.
Ou então o preconceito nacional que os consome não lhes permite reconhecer a excelência de qualquer outra nação. Mas que os muçulmanos sejamos influenciados pelas opiniões que eles têm a seu respeito, é incompreensivel.
Não somos capazes de entender porque alguns indivíduos da própria comunidade olham com escárnio para esta civilização que é deles mesmos, e a cujos pés o mundo todo se prostrou vários séculos.
No Curso da Degeneração
Talvez o argumento mais forte daqueles que zombam dos valores da civilização islâmica seja o de que, em comparação com as invenções e conquistas dos campos práticos da civilização moderna. Mesmo que tal assertiva seja correta, ela não reduz a dignidade e posição exaltada da nossa civilização por duas razões.
A primeira é a de que toda civilização consiste de dois elementos, um elemento moral e espiritual e outro material. No que tange o elemento material, a civilização seguinte indubitavelmente possui superioridade sobre a anterior.
Essa evolução da vida e dos seus recursos está em consonância com a lei Divina, é em vão esperar que a civilização anterior tivesse tudo aquilo que a sua sucessora adquiriu neste sentido. Se isto fosse uma justificativa em menosprezar todas as civilizações que antecederam a islâmica, uma vez que esta também produziu recursos existenciais e fenômenos civilizadores de que as civilizações anteriores não tinham qualquer vestígio.
Portanto, o elemento material não é um critério básico aceitável para a determinação de qualquer excelência duradoura e constante entre as várias civilizações. Quanto ao elemento moral e espiritual, é este o que torna imortal a qualquer dada civilização, e através do qual a humanidade atinge bem- estar, e vê resguardada de todos os riscos e tristezas.
Nesse campo, a civilização islâmica deixou para trás tanto as que a antecederam quanto as que a sucederam, tendo atingido um grau de evolução sem paralelo na história das culturas e civilizações, este fato é suficiente para tornara eterna, o verdadeiro propósito da civilização é o de que o homem possa alcançar o ápice das graças e do bem-estar, e o serviço prestado pela nossa civilização nesse sentido não foi igualado por nenhuma outra civilização quer do Oriente quer do Ocidente.
A outra razão está em que as civilizações não são comparadas pelo critério de padrões materiais. A parafernália de uma civilização e seus monumentos materiais não são critérios adequados para tais comparações. Consumir alimentos ricos e viver luxuosamente não é argumento de apoio à superioridade cultural.
Nesse assunto, o verdadeiro padrão de avaliação da excelência de uma civilização é a determinação da sua influência duradoura na história da humanidade. O mesmo se aplica às guerras e aos impérios. Estes também não são comparados em termos da área englobada pelo império ou pelo número de homens combatentes que participaram em esta ou aquela guerra.
Se as guerras travadas durante todo o passado distante e a Idade Média, forem comparadas com a segunda guerra mundial, em termos de números das forças combatentes e do armamento militar, aquelas esvanecem de insignificância.
Mas aquelas antigas guerras também tiveram grande importância e significado histórico, uma vez que resultarem em efeitos de longo alcance na história da humanidade. A batalha de Caunac (Itália 216 a.c), na qual o mundialmente célebre general Cartaginense, Anibal, derrotou fragosamente aos Romanos, está no rol das guerras que são ensinadas nas academias militares da Europa (do ponto de vista de estratégia militar).
As grandes proezas de Khalid Ibn Al-Walid durante as conquistas do Iraque e da Síria até hoje são estudadas pelos especialistas militares do Ocidente, e eles ainda admiram (por sua genialidade, estratégia de guerra e temeridade militar).
Fonte: islam.org.br