Presença muçulmana nas Américas

INTRODUÇÃO

Com o presente espaço, estamos introduzindo a discussão sobre a presença dos muçulmanos no continente americano, antes da chegada de portugueses e espanhóis. Com o crescimento do Islam em todo o mundo, torna-se necessário o redescobrimento dessa civilização que tanto contribuiu para a formação da cultura ocidental.

O Islam é, hoje em dia, a religião que mais cresce no mundo inteiro. Os muçulmanos contam-se em torno de 1.300 milhões, espalhados pelo mundo e congrega os mais diversos povos, culturas e tradições. Gente do povo, cientistas, ricos e pobres, sem qualquer espécie de discriminação. Durante muito tempo o Islam esteve associado à cultura árabe, talvez porque seu surgimento tenha-se dado na península arábica, através da revelação divina em língua árabe. Mas, a verdade é que hoje, do total de muçulmanos existentes, apenas 15% são árabes. Os demais são turcos, africanos, americanos do norte e do sul, europeus, asiáticos, etc. A união dessa diversidade cultural se dá no Islam. Por outro lado, o Islam é a religião que mais cresce nos Estados Unidos e Canadá, sendo que desse contingente, a maior parte é de mulheres.

Dito isso, é preciso conhecermos um pouco de sua história e descobrirmos como é que um povo até então quase desconhecido, disperso em tribos, onde não suportavam e nem concebiam outra autoridade além da arbitragem moral de um shaikh eleito entre eles, unificou-se sob o impulso de uma nova religião. Em alguns anos este povo conquistava todo o império sassânida, todas as províncias asiáticas e africanas do império bizantino, chegando à Espanha e Sicília, a oeste, e batendo às portas da India e China, a leste, Etiópia, Sudão, Gália e Constantinopla.

No século VII, a península arábica era habitada por povos que levavam uma vida nômade, divididos por tribos, incapazes de constituir uma federação mais ampla e estável. Sua religião era politeísta, com algumas crenças semíticas. Adoravam pedras e eram profundamente supersticiosos, com a prática de jogos de advinhação e oráculos. Ao sul da península, no Iemen, havia formas de sociedade mais desenvolvidas. Importante porto, por ali passava todo o comércio vindo do Oriente e ganhava o interior da península através de caravanas de cameleiros que iam até a Síria. Persas e etíopes disputavam a posse de pontos essenciais. Os sassânidas tinha o monopólio comercial no Oceano Índico e tentavam impedir a concorrência de Bizâncio, que, pelo Egito, tentava infiltrar-se na região. Em decorrência, Meca torna-se um centro comercial importantissimo, rota de passagem entre o Iemen e a Síria e o atual Iraque. Portanto, os árabes não viviam confinados, como podemos imaginar, mas nas fronteiras das duas grandes civilizações existentes então. E sua religião refletia essa realidade, posto que sua fé refletia um pouco de todas as crenças populares no Oriente.

É nesse ambiente que nasce Mohammad, o homem que pregou a religião única, revelada aos árabes para completar as revelações anteriores. Membro de uma tribo tradicional em Meca, os coraixitas, órfão desde muito cedo, foi criado por seu avô, primeiro, e depois por seu tio, Abu Talib. Homem de hábitos simples, dado à contemplação, era conhecido no seu meio por sua honradez no trato com os negócios e por sua simplicidade. Aos 25 anos casa-se com Khadija, uma viúva mais velha do que ele, rica empresária que administrava seus próprios negócios. Aos 40 anos recebe a primeira mensagem e, a partir daí, durante os 23 anos seguintes, o conjunto dessas mensagens foram ordenadas e sistematizadas em um livro, o Alcorão, o livro sagrado do muçulmano.

Mensagens simples, num estilo candente e concreto, de fácil compreensão por parte das pessoas, de imediato surgem as adesões em massa. O Alcorão promove uma verdadeira revolução na vida social e política árabe. Ele realçava a igualdade das pessoas dentro da comunidade muçulmana . Ao morrer, em 632, Mohammad tinha legado para as gerações futuras todo um código de vida, fundado em uma religião consciente de sua especificidade. Ele realçara a igualdade das pessoas dentro da comunidade muçulmana. As mulheres passaram a usufruir de uma condição até então desconhecida.  Esboçara um regime social externo e superior à organização social e unificara a Arábia, coisa até então inconcebível.

Após a sua morte, seguem-se as primeiras conquistas, iniciada com a Síria, depois o Iraque, Egito, Irã, no século VIII a ocupação da Africa do Norte e Turquia, e daí, cruzando o Mediterrâneo, para a Espanha e Sicília, atingindo a Gália. De início, essas conquistas não apresentaram efeitos perturbadores sobre as populações conquistadas. Não havia perseguição religiosa por parte dos muçulmanos. Só se exigia que os não-muçulmanos admitissem a supremacia política do Islam, materializada no pagamento de um imposto especial, na proibição de qualquer proselitismo junto a muçulmanos e no caráter puramente árabe do exercito. Na verdade, essas reservas pouco afetavam o quotidiano dos povos vencidos. O que é fato é que a vida intelectual floresceu tanto em Córdoba e Granada como em Damasco e Bagdá.  Não podemos nos esquecer que antes de uma Catedral de Notre Dame já existia a grande mesquita de Córdoba, antes de Santo Tomás de Aquino existiu Averróes que, ao fazer uma releitura da Antiguidade, possibilitou o renascimento europeu.

No entanto, a existência de um estado muçulmano no sul da Espanha era visto como uma afronta intolerável pelo poder econômico europeu emergente. Em 1492, Granada se rendeu ao exército de Fernando e Isabela, marcando o fim do império islâmico na Europa ocidental. É a história desse período que precisa ser resgatada.

Os muçulmanos da África Ocidental tinham uma enorme curiosidade a respeito do outro lado do Grande Mar. Iniciaram, então, suas expedições rumo ao desconhecido. Sabemos que os muçulmanos detinham conhecimento científico e habilidade suficientes para cruzar o oceano Atlântico. Ainda que existam poucos documentos a respeito, é certo que eles cruzaram o Atlântico em 889 da nossa era, 603 anos, portanto, antes de Colombo. Colombo sabia da presença de mandinkas (muçulmanos) no novo continente e que muçulmanos oriundos da Africa Ocidental haviam se estabelecido no Caribe e nas Américas do Norte, do Sul e Central. Os diários de bordo de Cristóvão Colombo relatam suas impressões ao se defrontar com os povos caribenhos: "como os maometanos".   Ele até admitiu que ao navegar pela costa cubana,  viu uma mesquita, em muito semelhante às encontradas no México, Texas e Nevada.

Hoje em dia já existem diversos historiadores muçulmanos e não muçulmanos empenhados no resgate  da história desse período, fornecendo provas e pistas da presença muçulmana no continente americano. Cabe a nós, muçulmanos, provarmos a extensão da contribuição do Islam na   formação dos povos americanos. Cabe, ainda, provar que, apesar de todo o esforço da cultura européia, no sentido de apagar qualquer vestígio dessa brilhante civilização, a verdade acaba por aparecer através do esforço de pesquisadores interessados no restabelecimento da verdade.

Fonte: sbmrj.org.br

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